Editor, roteirista, produtor, montador, diretor… Mil e uma funções compõem Gustavo Parente – ou Guto Parente, como nós conhecemos- , cineasta nascido em Fortaleza, no estado do Ceará, situado no Nordeste do Brasil. Sua paixão por cinema é de anos, e é essa paixão que faz com que ele seja um dos grandes nomes do cinema brasileiro atual.
A jornada de Guto no cinema é extremamente espetacular. Iniciou através de sua formação na Escola de Audiovisual de Cinema em Fortaleza. Tudo que aprendeu no ambiente acadêmico, ele levou consigo para colocar em prática em suas futuras produções. Podemos dizer que tudo o que ele aprendeu o recompensou muito bem.
O cineasta cearense estreou nos cinemas com o curta “Espuma e Osso” (2007), ao lado de Ticiano Monteiro. Nos longas, o cineasta dirigiu os títulos como “Estrada para Ythaca” (2010), “O Estranho Caso de Ezequiel” (2016) e “Inferninho” (2018). Além disso, suas produções renderam prêmios internacionais, como o Brooklyn Horror Film Festival pelo longa “Clube dos Canibais” (2018), AFI Fest; além de prêmios nacionais como Prêmio Guarani e Associação Paulista de Críticos de Arte.
Agora, Guto Parente alcança uma grande conquista na carreira. Trata-se de ser o único representante brasileiro no Festival de Cinema de Tribeca, evento fundado por Jane Rosenthal, Robert De Niro e Craig Hatkoff; é também um dos principais festivais de cinema mundialmente. Nele, o cineasta apresenta “Estranho Caminho” (2022), único título brasileiro entre os oitos filmes que estão na competição.
O Blog Hipérion conversou com o cineasta para saber mais sobre esse grande momento de sua carreira; confira agora:
O enredo do filme apresenta um cineasta que retorna a sua cidade natal para participar de um festival e tem contato com seu pai ausente. Gostaríamos de saber se o roteiro foi baseado em alguma experiência autobiográfica sua ou é completamente fictícia?
Guto: Nessa questão do festival, eu não cheguei a passar por isso. Mas ao longo da pandemia sei de muitos colegas que passaram, com filmes selecionados para festivais que foram cancelados ou tiveram que acontecer online. Mas sim, o filme carrega vários elementos autobiográficos. Principalmente no que diz respeito à relação entre filho e pai.
A equipe do longa é composta por profissionais cearenses e a produção é ambientada no Ceará. Em sua visão, o quão importante é essa representatividade regional para o cinema brasileiro?
Guto: Já tem um tempo que o cinema cearense tem se mostrado uma potência pro Brasil e pro mundo. Somos muito criativos e talentosos, isso é fato. E a partir do momento em que o Estado passou a investir com alguma consistência nos nossos talentos, nós provamos que podemos chegar cada vez mais longe. Diferente de 15 anos atrás, quando eu estava começando a fazer cinema, hoje é possível se montar 2,3 equipes de longa-metragem só com profissionais cearenses e sem repetir um nome sequer. Claro que ainda temos carência em algumas áreas, em alguns departamentos, mas se esses investimentos públicos continuarem crescendo, se o Estado continuar acreditando que o cinema cearense é uma de suas principais vitrines para o mundo, como fazem os pernambucanos desde os anos 90, daqui a alguns anos poderemos chegar num patamar ainda mais alto, transbordando de novos talentos.
“Estranho Caminho” é o único filme brasileiro dentre os oito selecionados para a mostra competitiva do Festival de Tribeca, em Nova Iorque. Qual a sensação dessa nova conquista, principalmente sendo o representante brasileiro no evento?
Guto: A gente trabalha tanto pra chegar no melhor que o filme pode chegar, é tanto tempo de dedicação – para se ter uma ideia, o processo de montagem do “Estranho Caminho” durou 20 meses -, que uma seleção de destaque como essa chega como uma grande recompensa.
“Estranho Caminho” venceu o prêmio WIP Paradiso, no WIP Latam do Festival de San Sebastián e agora está presente no Festival de Tribeca, um dos principais do cinema. Veremos ele em mais festivais e quem sabe ser escolhido para representar o Brasil no Oscar?
Guto: Eu espero que o filme circule por vários festivais, sim, tanto fora do Brasil quanto aqui. É sempre muito enriquecedor apresentar um filme para platéias diferentes, de culturas diferentes, diferentes perspectivas. É um grande aprendizado. Quanto a representar o Brasil no Oscar, ainda é muito cedo para pensar nisso.
Quero dar os parabéns pela seleção do seu filme para o Festival Tribeca, pois, afinal, é uma grande conquista! Gostaríamos de saber se você já está trabalhando em novos projetos e se poderia dar algo em primeira mão sobre eles.
Guto: Eu estou trabalhando agora em três novos projetos de longa. “O Futuro a Deus Pertence”, um projeto que foi contemplado no último edital de arranjos regionais da Secult-CE, mas que só recebeu o financiamento do FSA tem pouco tempo; “Futuro”, um projeto primo do O Futuro a Deus Pertence, só que bem maior, que ainda vamos inscrever em editais; e “Um Toque de Beleza”, também em fase de financiamento.
Por último, como cineasta nordestino, você conseguiu alcançar um grande sucesso. Para aqueles que desejam seguir seus passos e ingressar no mundo do cinema, qual conselho você daria?
Guto: Em termos existenciais, eu acho que o sucesso e o fracasso na verdade são muitos parecidos. Ambos podem provocar aprendizado ou paralisia. Tanto se cresce e se aprende com o sucesso quanto com o fracasso. Então, eu acho que o foco tem que estar sempre no trabalho. Entender que fazer cinema é um trabalho que exige muita energia e dedicação. E que errar faz parte. Fazer cinema com medo de errar é o pior de todos os erros. Querer copiar modelos de sucesso é outro.
Sobre “Estranho Caminho”, de Guto Parente
“Estranho Caminho” é um filme brasileiro de drama e acompanha David, um jovem cineasta que, ao visitar sua cidade natal, Fortaleza, é surpreendido pelo rápido avanço da covid-19 e se vê obrigado a procurar o pai, Geraldo, com quem não fala ou não tem notícias há mais de dez anos. No entanto, coisas estranhas começam a surgir após esse encontro.
Além de dirigir, Guto Parente assina o roteiro do longa, com produção de Ticiana Augusto Lima. Os protagonistas da trama são Lucas Limeira (“Cabeça de Nêgo“) como David e Carlos Francisco (“Bacurau” e “Marte Um“) como Geraldo.
Gravado em 2021, o filme foi financiado pela Secretaria de Cultura do Ceará por meio de recursos da Lei Aldir Blanc. Em 2022, venceu o WIP Paradiso de melhor produção brasileira no programa WIP Latam do Festival de San Sebastian, na Espanha.
“Estranho Caminho” será exibido no Festival de Tribeca, em Nova Iorque. O evento acontece entre os dias 7 e 18 de junho.
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