Matéria de Wilson Almeida
Nos centros produtores de cinema mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, os estúdios de cinema funcionam como qualquer outra empresa. Eles assumem riscos e financiam seus filmes através de várias formas, como investidores privados, recursos próprios, parcerias com produtoras e até mesmo empréstimos bancários.
Contudo, tal como qualquer empresa, escolhas equivocadas podem levar um estúdio à falência. Assim, é crucial ter precaução ao escolher um roteiro para produzir, pois ele deve ser de qualidade para atrair um público que garanta uma bilheteria capaz de cobrir o investimento e gerar receita para manter a saúde financeira do estúdio, permitindo que este continue criando novas obras de forma independente.
A seguir, apresentamos cinco clássicos do cinema que salvaram seus estúdios da falência:
Rin Tin Tin (1923) – Warner Bros.
A paixão de Hollywood por cachorros pode ser rastreada até Rin Tin Tin, a primeira grande estrela canina do cinema. Rin Tin Tin ajudou a salvar a Warner Bros. da falência em 1923.
Ele foi descoberto em 1918 pelo americano Lee Duncan em um campo na França, onde estava uma ninhada de filhotes de pastor alemão deixados para morrer. Duncan levou Rin Tin Tin para Los Angeles, onde ele ganhou concursos de cães e competições de agilidade. Finalmente, foi escalado como um lobo em “The Man Form Hell’s River“, de 1922.
Um ano depois, ele compartilhou a tela com a atriz de cinema Claire Adams em “Onde Começa o Norte“. O filme mudo foi escrito por Duncan, que estudou as expressões faciais de Rinty e criou cenários dramáticos que tiravam o máximo proveito delas. O resultado foi um cão capaz de “registrar emoções e retratar um personagem real com seus amores, lealdades e ódios individuais”, como Duncan descreveu.
O filme custou US$ 100.000 para a Warner Bros. produzir. Ajustado pela inflação, esse calor equivale a US$ 1,780 milhão em 2023. O filme arrecadou US$ 352.000 (US$ 6,3 milhões hoje), salvando o estúdio da falência e levando à produção de mais 26 filmes até a morte de Rin Tin Tin, um mês antes de seu 24º aniversário.
Rin Tin Tin Jr., que foi um dos 50 filhotes que ele gerou, teve algum sucesso, assim como o seu neto Rin Tin Tin III, que estrelou “O Retorno de Rin Tin Tin“, em 1947.
Cinderela (1950) – Disney
Após a Segunda Guerra Mundial, a Disney passou por um período de dificuldades financeiras e criativas. O estúdio havia perdido grande parte de sua equipe para o serviço militar, e muitos dos animadores ficaram insatisfeitos com as condições de trabalho. Além disso, o sucesso de bilheteria de seus filmes anteriores, como “Bambi” e “Fantasia“, havia sido limitado.
Assim, como já havia feito com a Branca de Neve mais de uma década antes, a Disney decidiu investir tudo em Cinderela. A aposta se mostrou acertada, e o filme foi um grande sucesso de bilheteria e crítica, tornando-se um clássico atemporal da animação.
A Disney investiu mais de US$ 2 milhões em Cinderela, um filme que se provou um grande sucesso de bilheteria. O longa arrecadou mais de US$85 milhões em todo o mundo, um valor expressivo para a época.
Cinderela não só salvou o departamento de animação da Disney, como também ajudou resgatar a empresa como um todo. Desde então, a Disney se estabeleceu como uma das mais importantes produtoras do mundo, com um catálogo de filmes que se tornaram verdadeiros clássicos.
Hoje, a Disney é uma marca mundialmente reconhecida, e tudo isso foi graças a apostas ousadas como Cinderela.
Cinderela (1950)
“Cinderela” é uma adaptação animada do conto de fadas clássico. A história segue a vida de uma jovem órfã chamada Cinderela, que é maltratada por sua madrasta e duas irmãs malvadas. Apesar dos abusos, Cinderela mantém sua bondade e otimismo, sonhando em um dia encontrar o amor verdadeiro. Com a ajuda de sua fada madrinha, Cinderela é transformada em uma bela princesa e consegue comparecer ao baile do príncipe encantado. No baile, ela e o príncipe se apaixonam, mas sua madrasta tenta impedir seu felizes para sempre. O filme é um clássico atemporal, com personagens adoráveis, canções icônicas, animação belíssima e uma mensagem de esperança e perseverança.
Ben-Hur (1959)
No final dos anos 50, decisões judiciais que forçavam os estúdios de cinema a se desfazerem de suas redes de cinema e a pressão competitiva da televisão causaram séria dificuldade financeira na MGM. Em uma tentativa de salvar o estúdio e inspirado pelo sucesso do épico bíblico “Os Dez Mandamentos” da Paramount Pictures em 1956, o chefe de estúdio Joseph Vogel anunciou em 1957 que a MGM iria avançar em um remake de Ben-Hur.
As filmagens começaram em maio de 1958 e terminaram em janeiro de 1959, com seis meses de pós-produção.
Embora o orçamento inicial de Ben-Hur fosse de US$ 7 milhões, em fevereiro de 1958 já havia sido reportado que o orçamento havia subido para US$ 10 milhões e, quando as filmagens começaram, o orçamento chegou a US$ 15 milhões – tornando-se o filme mais caro já produzido até aquele momento. Quando ajustado para a inflação, o orçamento de Ben-Hur seria de aproximadamente US$ 139 milhões.
A produção do filme incluiu uma mudança notável nos títulos de abertura. Preocupado que o rugido de Leo, o Leão (mascote da MGM), criasse um clima inadequado para a sensível e sagrada cena do nascimento de Jesus, o diretor William Wyler recebeu permissão para substituir o logo tradicional por um em que Leo fica em silêncio. Foi a primeira vez na história da MGM que o logo do leão não foi visto rugindo.
Ben-Hur estreou em 1959 e foi um sucesso incrível de bilheteria, arrecadando mais de US$ 146 milhões em todo o mundo e tornando-se o filme de maior sucesso do ano. Além disso, foi indicado para 12 prêmios da Academia, ganhando 11, incluindo o de Melhor Filme. Este sucesso surpreendente salvou a MGM da falência e solidificou uma posição como um dos principais estúdios de Hollywood.
Ben-Hur (1959)
Ben-Hur é um épico de ação e drama dirigido por William Wyler. A história é ambientada na época de Jesus Cristo e segue a jornada de Judah Ben-Hur, um príncipe judeu que, após ser traído por um amigo romano, é condenado à escravidão e forçado a remar em um navio de guerra. Ele consegue escapar e retorna à Jerusalém em busca de vingança, mas acaba encontrando a redenção por meio de sua fé e amor. O filme é estrelado por Charlton Heston, Stephen Boyd e Jack Hawkins, e apresenta cenas de batalhas emocionantes e a famosa corrida de bigas.
Shrek (2001) – DreamWorks
Shrek, lançado em 2001, é um filme de animação da DreamWorks que teve um papel crucial em salvar a empresa da falência. O filme, que custou cerca de US$ 60 milhões para ser produzido, arrecadou incríveis US$ 484,4 milhões em todo o mundo.
De acordo com Jeffrey Katzenberg, um dos cofundadores da DreamWorks e criador de “Shrek“, em uma entrevista de 2007 ao jornal The Age, “esse primeiro ‘Shrek’ salvou a empresa financeiramente. Estamos aqui hoje por causa disso.”
Uma curiosidade interessante é que o filme originalmente seria estrelado por Chris Farley, mas após a sua morte em 1997, Mike Myers foi escalado como a voz de Shrek e Eddie Murphy como a voz do Burro. A escolha da trilha sonora foi um fator importante no sucesso do filme, que contou com músicas populares de artistas como Smash Mouth e Rufus Wainwright.
Shrek (2001)
Shrek é um ogro solitário e mal-humorado que vive em um pântano isolado, mas sua paz é interrompida quando um grupo de personagens de contos de fadas são expulsos de seus lares pelo cruel Lorde Farquaad e acabam se instalando em sua propriedade. Determinado a recuperar sua casa, Shrek faz um acordo com Farquaad: se ele resgatar a princesa Fiona de um castelo protegido por um dragão, o Lorde irá devolver seu pântano para ele. Srek e seu novo amigo, o Burro, embarcam em uma jornada perigosa para salvar a princesa, mas descobrem que ela esconde um segredo surpreendente. Enquanto isso, Farquaad tem seus planos próprios para a princesa, o que pode ameaçar a felicidade de todos.
Top Gun: Maverick (2022) – Paramount Pictures
“Top Gun: Maverick“, estrelado por Tom Cruise e produzido pela Paramount Pictures, não apenas salvou a produtora, mas também revitalizou a indústria cinematográfica em todo o mundo. Com um custo de produção de US$ 170 milhões, o investimento parecia arriscado, mas o sucesso estrondoso da bilheteria mundial de US$ 1,488 bilhão provou o contrário.
Se alguém pudesse viajar no tempo de volta ao início da era da pandemia e dizer às pessoas que um filme acabaria por salvar a experiência de ir ao cinema, muitas poucas pessoas acreditariam que esse filme seria “Top Gun: Maverick”.
Depois de meses de incertezas, surtos e quase falências, a sequência estrelada por Cruise fez o impossível e trouxe o público em geral de todos os tipos para o cinema em massa. Nenhum outro filme entrou na consciência pública de maneira tão forte e transformou a ida ao cinema em uma rotina comum.
Então, o que tornou “Top Gun: Maverick” tão especial e permitiu que ele salvasse os cinemas?
A pandemia da Covid-19 fez com que os cinemas fechassem temporariamente e os espectadores tiveram acesso exclusivo a novos filmes em plataformas de streaming em suas televisões. Isso levou os estúdios a considerar fortemente o streaming como uma estratégia viável de lançamento para os filmes. Mesmo depois que os cinemas reabriram, a mudança afetou negativamente em seus negócios.
No entanto, com o lançamento de “Top Gun: Maverick”, as coisas começaram a mudar. Essa sequência do clássico de 1986 foi muito aguardada pelos fãs do filme original, bem como por novos públicos atraídos pela campanha de marketing do longa. O envolvimento de Tom Cruise no filme também foi um grande atrativo, já que o ator é conhecido por suas acrobacias incríveis e dedicação aos seus papéis.
O sucesso do filme nas bilheterias inspirou a confiança dos estúdios no poder da experiência cinematográfica e mostrou que as pessoas estavam dispostas a sair de casa para assistir a um grande filme na tela grande. O filme foi um forte indicador de que, embora as plataformas de streamings sejam importantes, elas não substituem a experiência do cinema.
Top Gun: Maverick (2022)
Top Gun: Maverick é uma sequência do filme de ação clássico de 1986, dirigido por Joseph Kosinski. O filme segue Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise), um piloto de caça da Marinha dos Estados Unidos, que agora atua como instrutor na escola de aviação naval. Com a chegada de uma nova geração de pilotos, Maverick é desafiado a enfrentar seus próprios medos e superar seus limites enquanto lidera uma missão de treinamento arriscada. O elenco inclui nomes como Miles Teller, Jennifer Connelly, Jon Hamm e Glen Powell. O filme apresenta cenas de ação impressionantes e traz de volta a trilha sonora icônica do filme original.
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