Matéria colaborativa de Wilson Almeida e Rafael Cruz

Em toda a vastidão do universo cinematográfico, um elemento se destaca por sua capacidade de despertar emoções, contar histórias e transportar o público para mundos distantes: o som. Imagine-se sentado no cinema, mergulhado em imagens deslumbrantes e histórias envolventes. Agora, subtraia o som dessa equação. Sobrariam apenas as imagens, privadas de contexto, e o envolvimento do público estaria comprometido.

O som no cinema é categorizado em diegético e não diegético. O som diegético ocorre dentro do mundo da história, incluindo diálogos dos atores, o som de um vidro quebrando ou buzinas de táxis. Por outro lado, o som não diegético não faz parte do mundo da história. Isso pode incluir a trilha sonora, um narrador ou sons usados para efeitos dentro do filme. Ambos os tipos de som são importantes para adicionar contexto a qualquer filme.

Nesse contexto, é possível distinguir três componentes primordiais do som no cinema: as vozes dos personagens, a música e os efeitos sonoros. Eles podem originar-se de gravações diretas, que são posteriormente editadas, ou serem sintetizadas artificialmente. O valor inestimável do som é evidente para aqueles que já assistiram a um filme mudo. Esse universo silencioso demonstra o papel indispensável do som para conduzir a narrativa, expressar emoções e construir a atmosfera de um filme.

Vozes dos personagens

As vozes dos personagens representam um dos sons mais importantes em um filme. O diálogo dos atores precisa estar perfeitamente sincronizado com a ação que ocorre na tela, ecoando com autenticidade a voz dos personagens. Nesse sentido, o som se transforma em um componente crucial da atuação, reforçando a interpretação e transmitindo a verdadeira emoção do personagem.

No entanto, na prática da produção cinematográfica, muitas vezes, devido aos ruídos das cenas externas, os atores precisam dublar em estúdio suas próprias falas. Este processo, conhecido como pós-dublagem, serve para realçar a interpretação longe das interferências externas e garante que o diálogo seja capturado com clareza máxima.

Independentemente de o diálogo ser registrado pelo operador de boom no set ou pelo designer de som adicioná-lo posteriormente, é fundamental entender o que os atores estão dizendo durante um filme. Isso reforça a importância do som não apenas como um complemento, mas como um elemento essencial na construção do universo cinematográfico.

Efeitos Sonoros

Movendo a trama de forma sutil ou dramática, os efeitos sonoros conduzem o público de cena em cena. Imagine ouvir o ressoar de uma próxima cena antes mesmo de vê-la; é a ponte sonora em ação, guiando-nos através da trama e preenchendo os espaços que os fades tradicionais deixam para trás

O som também dá vida ao cenário do filme. Os ruídos da cidade, o sussurro do vento numa ilha isolada ou o rugido de uma cachoeira são elementos que enriquecem a trama, conectando o público à localização da narrativa. Esses sons temáticos são capazes de ambientar a cena, permitindo que o público tenha uma percepção mais intensa do local retratado.

Música

A música, um dos elementos mais versáteis do design sonoro, desempenha um papel fundamental no cinema. Ela é a força motriz da narrativa, permitindo que o público antecipe o que vai acontecer, provocando emoções e auxiliando na transição entre cenas. Como se fosse uma trilha sonora de nossas vidas, cada canção ou composição pode ressoar em nossa alma, formando o pano de fundo de nossas histórias pessoais e lembrando-nos de nossas experiências ao assistir a filmes.

A trilha sonora tornou-se uma parte integrante da maioria dos grandes filmes, às vezes interpretada por uma grande orquestra, adicionando uma dimensão suplementar à partitura do filme. Desde os filmes mudos do início do século 20 até as arrebatadoras suítes orquestrais de hoje, as melhores trilhas sonoras proporcionam uma conexão com os personagens e histórias que amamos.

Para ilustrar a poderosa influência da música nos filmes, convido você a explorar cinco obras-primas premiadas com o Oscar de Melhor Trilha Sonora:

A Vida é Bela (1998)

“A Vida é Bela” é um filme italiano de 1998 e é considerado um dos melhores filmes já existentes. A produção se passa na Segunda Guerra Mundial, na Itália, quando Guido, um judeu dono de uma pequena livraria, é capturado junto com seu pequeno filho Giosué e levado para um campo de concentração nazista. Para distrair a criança, ele usa o seu bom humor e leva-o a acreditar que ambos estão em um jogo.

A trilha sonora composta por Nicola Piovani, um compositor de filmes e de peças do teatro italiano, nos leva a uma emoção sem fim e sem dúvidas, é uma das melhores do cinema, tanto que levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora além de garantir a estatueta em mais duas categorias (Filme Internacional e Melhor Ator).

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003)

“O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei“, baseado na obra homônima de J.R.R. Tolkien, é um filme de fantasia lançado em 2003 e faz parte de uma das maiores franquias do cinema. A trilha sonora do filme, composta por Howard Shore, é um dos pontos perfeitos do longa, tornando-se uma das trilhas sonoras mais memoráveis, chegando a ser apresentadas por orquestras em diversas partes do mundo. Além do Oscar de Melhor Trilha Sonora, a produção venceu em mais dez categorias incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção para Peter Jackson e Melhor Filme.

Coringa (2019)

“Coringa” (2019), é um filme de suspense baseado no personagem de mesmo nome da DC Comics. A trama acompanha a história de Arthur Fleck, um comediante de stand-up fracassado que se torna um louco e começa a levar o caos para Gotham City. A trilha sonora do filme é excelente, principalmente quando Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) abraça seu lado psicótico. A música da clássica cena da escada é extremamente icônica e seu complemento leva a cena à outro nível. Composta pela islandesa Hildur Guðnadóttir, a trilha sonora do longa venceu o Oscar, o Grammy, Globo de Ouro e outros prêmios.

O Rei Leão (1994)

“O Rei Leão”, de 1994, é uma das animações mais memoráveis da Disney. O longa que acompanha as aventuras do pequeno Simba, que mais tarde torna-se um rei, é marcado também por sua trilha sonora icônica composta pelo Hans Zimmer, um dos compositores mais premiados do cinema. Assim como a maioria das animações clássicas, a trilha sonora de “O Rei Leão” cativa o espectador que se deixa levar pela narrativa do filme. Além do Oscar, a trilha do filme também levou o Globo de Ouro na época.

Titanic (1999)

Quando se fala em música e trilha sonora, não tem como não lembrar de “Titanic” (1999). O filme que conta a linda história de Rose (Kate Winslet) e Jack (Leonardo DiCaprio), tem uma das trilhas sonoras mais marcantes do cinema. Para se ter uma ideia, a trilha vendeu mais de 30 milhões de cópias no mundo, apesar de ter apenas uma música de letra, que é “My Heart Will Go On“, cantada por Celine Dion. Cada parte do longa e o som ao fundo é uma junção perfeita que deixa o espectador sem palavras. James Horner foi excelente ao compor a trilha do longa que além do Oscar, também venceu o Grammy e Globo de Ouro.

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