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Dioniso: o deus transgressor da festa e do teatro na Grécia Antiga, elo entre o humano e o divino

Dioniso sendo idolatrado

Dioniso, também conhecido como Baco na mitologia romana, foi um dos deuses mais populares da Grécia Antiga. Embora ele fosse frequentemente associado ao vinho e à festa, ele também era conhecido por suas características transgressoras. Dioniso era um deus da fertilidade, da teatralidade e do êxtase.

Filho de um deus imortal e uma princesa mortal, Dioniso era o elo de ligação entre a humanidade e o divino. Sua força era a natureza cíclica e indomável, que através da intoxicação, tirava os homens e mulheres de si mesmos. Como um intermediário genial, mas selvagem e perigosamente avassalador, Dioniso representava um dos mistérios e paradoxos duradouros da vida.

A influência de Dioniso no teatro grego e na cultura ocidental

Dioniso

Dioniso, além de ser o deus do vinho, também era considerado o deus do teatro na Grécia Antiga. Em sua homenagem, foi construído o primeiro teatro do mundo, que recebeu o nome de Teatro de Dioniso. Esse teatro era situado na cidade de Atenas e tornou-se o local principal para a realização dos festivais em honra ao deus. 

Além disso, Dioniso inspirou os maiores dramaturgos de todos os tempos, como Sófocles, Eurípides e Ésquilo. 

Esses dramaturgos escreveram algumas das peças mais famosas da história, como “Édipo Rei” e “Antígona” de Sófocles, “As Troianas” e “Medeia” de Eurípides, e “Os Persas” e “Prometeu Acorrentado” de Ésquilo. Foi nesses festivais que a tragédia grega, um dos maiores legados da cultura ocidental, foi desenvolvida.

Embora a mitologia de Dioniso pareça estranha e afastada dos mitos greco-romanos, ele era um deus plenamente realizado. Seu legado inclui não apenas o teatro e a tragédia grega, mas também a celebração da vida, da fertilidade e do prazer. Como o “deus que nasceu duas vezes”, ele representa a eterna renovação da vida e a possibilidade de uma nova perspectiva.

O nascimento trágico de Dioniso: uma história de traição, inveja e sacrifício

Hera, mãe de Dioniso
Hera, deusa dos casamentos e das mulheres. Pintura de Louis Dubois.

Dioniso foi o produto de um caso extraconjugal entre Zeus e a mortal princesa Sêmele. Quando Hera descobriu o relacionamento, sua inveja a levou a tentar destruir Sêmele e seu filho ainda não nascido. Disfarçada de mortal, Hera plantou uma semente de dúvida na mente da jovem mulher de que seu amante não era um deus e depois lhe deu uma maneira de obter uma prova. Sêmele seguiu o plano de Hera e induziu Zeus fazer um juramento inquebrável de conceder-lhe qualquer desejo; então ela pediu a Zeus para aparecer diante dela em toda a sua glória divina. Por causa de seu juramento, Zeus não pôde recusar e revelou sua divindade, uma visão que os mortais não podem suportar. Sêmele queimou em cinzas.

Zeus, pai de Dioniso
Zeus aparecendo para Sêmele, pintura de Peter Paul Rubens.

A jornada divina de Dioniso: do renascimento na coxa de Zeus à purificação pela deusa-mãe Cibele

Dioniso quando bebê
Dioniso quando criança, pintura de Jacob Jordaens.

Zeus conseguiu salvar o filho ainda não nascido e o costurou em sua própria coxa. Quando a gestação foi concluída, Dioniso irrompeu da coxa de Zeus. Depois de seu extraordinário nascimento, Zeus confiou o bebê Dioniso ao deus mensageiro Hermes. 

Dioniso passou a ser conhecido como o “deus que nasceu duas vezes“. Essa história é uma analogia poderosa para as pessoas que conhecem o teatro e renascem para uma nova vida mais rica e cheia de significado.

O bebê foi protegido de Hera e criado por ninfas. No entanto, a raiva ciumenta de Hera não acabou com a morte de Sêmele. Ela decidiu enlouquecer Dioniso. O jovem deus vagueia sem rumo pelas terras a leste da Grécia, acabando por chegar à Frígia, um reino na parte centro-oeste da Anatólia (atual Turquia). Lá, a deusa-mãe Cibele – cujo próprio culto estava associado e aparentemente se assemelhava ao séquito de Dioniso – o purifica, talvez reconhecendo um espírito semelhante.

Danças frenéticas e loucura divina: o papel das mênades e sátiros nos festivais de Dioniso

Dioniso com as mênades
A juventude de Baco pintura de William Bouguereau.

Curado de sua loucura, Dioniso continua a viajar, acompanhado por um séquito de seguidores que o adoram em estado de êxtase alcoólico, realizando festivais luxuosos em sua honra. Entre eles estão ninfas chamadas mênades – também conhecidas como bacantes – mulheres que dançam freneticamente, cantam e se entregam a um estado de loucura divina, acompanhando o deus em sua jornada. Eles também são acompanhados por sátiros, criaturas míticas metade humanas e metade bodes, que são frequentemente representados como acompanhantes e servos de Dioniso.

O ciclo sagrado de Dioniso: seu papel na religião órfica e seu legado inspirador

Dioniso adulto
O triunfo de Baco, pintura de Diego Velázquez.

Dioniso também tinha um papel importante na religião órfica, um movimento religioso místico que se originou na Grécia antiga no século VI a.C. Então, os seguidores órficos acreditavam em um ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento, e acreditavam que a alma humana poderia ser libertada do ciclo através de rituais de purificação e iniciações.

Em resumo, Dioniso era muito mais do que apenas um “deus da festa”. Ele representava o ciclo natural da vida, da morte e do renascimento, e era adorado por seguidores que procuravam conexão com o divino através do êxtase sagrado e da purificação ritual. Embora a mitologia grega tenha sido suplantada pelo cristianismo, a figura de Dioniso continua a ser uma fonte de inspiração para artistas, escritores e pensadores em todo o mundo.

O Teatro de Dioniso: o primeiro teatro do mundo construído para peças teatrais

Teatro de Dioniso na Grécia
Teatro de Dioniso. Foto: Reprodução/Internet.

Embora o Teatro de Dioniso seja considerado o primeiro teatro do mundo a ser construído, é importante observar que as práticas teatrais já existiam antes deste período. Por exemplo, no Egito antigo, havia apresentações teatrais em cultos dedicados ao deus Osíris.

No entanto, o Teatro de Dioniso foi o primeiro teatro construído especificamente para a apresentação de peças teatrais e sua construção remonta ao final do século VI a.C. Desde então, passou por diversas reconstruções ao longo dos séculos.

Durante o século V a.C., o teatro era usado para performances teatrais de peças escritas pelos grandes poetas trágicos, como Ésquilo, Eurípides e Sófocles. As peças eram realizadas em honra ao deus Dioniso, e uma estátua do deus foi colocada na primeira fila para que ele pudesse assistir às peças e sacrifícios em seu nome.

Inicialmente feito de madeira, o teatro foi posteriormente reconstruído em pedra, e em 330 a.C. assentos de pedra foram adicionados para acomodar até 17.000 pessoas. Ao longo dos séculos, o teatro passou por diversas reformas, e a maioria das ruínas que vemos hoje são dos tempos romanos.

As inscrições em alguns dos tronos revelam que pertenciam a governantes eleitos, enquanto os outros assentos eram destinados a cidadãos.

Continue acompanhando o que há de mais relevante no mundo das artes aqui na Hipérion Blog!

Wilson Almeida

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